segunda-feira, 23 de março de 2015

Desabafo insone

3:30 da madrugada e estou eufórica. Morrendo de não morrer. Se eu fosse bipolar, nesse momento alguém estaria considerando seriamente a possibilidade de eu estar em plena crise maníaca e necessitando uma alteração na minha medicação. Se eu tivesse 15 anos meu pai viria à porta do meu quarto antes de se deitar e aconselharia, sabendo que a chance de eu seguir sua sugestão seria pequena: "Tenta não ir dormir muito tarde, filha!". Dentro de uma ou duas horas minha mãe bateria na porta do quarto pedindo para eu fazer menos barulho. E eu provavelmente estaria fazendo uma dessas coisas insólitas que sempre fiz de madrugada como colar uma coleção de centenas de postais nas paredes do meu quarto, serrar com uma faca de cozinha o encosto de uma cadeira velha que eu queria transformar numa mesinha de mosaicos, arrumar pela milésima vez os meus livros, reler meus livros de arte (vários ao mesmo tempo). 

Não sei de onde vem isso, mas sei que quando estou assim é bom sinal. Hoje fiz um monte de coisas aparentemente banais para a maior parte das pessoas, mas incomuns para mim. Vi, até o final, um tipo de filme que eu normalmente evitaria com todas as minhas forças. Escutei músicas completamente atípicas até as 3 da madrugada. Sonhei um sonho maluco. Agora estou considerando seriamente a idéia* de ir caminhar no Botânico às 6:00. Quem me conhece entende como isso é bizarro. 

Eu não sei explicar o que está acontecendo, mas estou tão alegre que chego a sentir angústia. E eu não tenho a mínima idéia* de onde surgiu TANTA energia. Não estou nem conseguindo escrever um texto decente, porque o fluxo de pensamento atropela as minhas sentenças e as imagens que surgem na minha cabeça são muito mais interessantes que palavras. O lirismo foi passear, ficou só o puro e simples desabafo. Enquanto isso todo mundo está dormindo nessa cidade que dorme cedo. Só escuto o barulho do motor da geladeira e das teclas que vou pressionando. Não sinto sono algum.

Olhei a programação cultural e não tem música de câmara em lugar nenhum até o fim do mês. Morro de sede. Se não pudesse ler meus livros, enlouqueceria. Tenho fomes variadas. Quero vazar, quero desaguar, quero furar esse recipiente com uma agulha e ver estourar. E depois, não vou limpar nada.



* Idéia que se preze tem acento. E jibóia, azaléia, paranóia.... odisséia!

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